quarta-feira, 13 de agosto de 2014

[Resenha] a cor do leite

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Autora: Nell Leyshon
em 1831, uma menina de 15 anos decide escrever a própria história. mary tem a língua afiada, cabelos da cor do leite, tão brancos quanto sua pele, e leva uma vida dura, trabalhando com suas três irmãs na fazenda da família. seu pai é um homem severo, que se importa apenas com o lucro das plantações. contudo, quando é enviada, contra a sua vontade, ao presbitério para cuidar da esposa do pastor, mary comprovará que a vida podia ainda ser pior. sem o direito de tomar as decisões sobre sua vida, mary tem urgência em narrar a verdade sobre sua história, mas o tempo é escasso e tudo que lhe importa é que o leitor saiba os motivos de suas atitudes. a cor do leite apresenta a narrativa desesperada de uma menina ingênua e desesperançosa, mas extremamente perspicaz e prática. escrito em primeira pessoa e todo em letras minúsculas, o texto possui estrutura típica de quem ainda não tem o pleno controle da linguagem. a jovem narradora intercala a história com suas opiniões, considerados por alguns críticos os trechos mais angustiantes da obra. ·


Recebi a cor do leite de surpresa da Bertrand, realmente não esperava, já que o blog é parceiro apenas da Record, mas fiquei muito feliz com a ação e que o Apenas um Vício foi um dos escolhidos para resenhar o livro. Logo que ele chegou procurei saber mais sobre a trama e me encantei na hora, principalmente por saber que a narrativa era bem diferente do usual. A protagonista escreve tudo em letras minúsculas, com diálogos sem travessão ou aspas, alguns erros gramaticais e sem nenhuma estrutura... Tudo isso é pelo fato que ela é alguém que aprendeu a pouco tempo a ler e escrever, além de ter muita pressa de nos contar sua história. É assim que em primeira pessoa conhecemos Mary, seus sentimentos e motivos que a levaram a tudo que vamos descobrindo no decorrer da leitura.

Mary é a mais nova de três irmãs, que desde pequena teve um problema na perna, porém, nada que impediu seu pai de a fazer trabalhar. O ano é 1831, e pela narrativa da protagonista, percebemos que o machismo, opressão e submissão para com as mulheres é visível e absurdo. O pai é alguém violento, que como não tem filhos homens, coloca as filhas no trabalho pesado do campo para aumentar os lucros. É uma vida sofrida, mas a qual Mary já se acostumou. Tudo muda para ela quando seu pai a vende para o pastor para trabalhar em sua casa e cuidar de sua mulher doente. É assim que acompanhamos a mudança da vida de Mary e como foi ser obrigada, pois ela não tinha escolha nenhuma, a morar longe da família. É surpreendente que mesmo com o trabalho pesado e as surras ela prefere continuar em sua casa, do que em um emprego mais leve, limpo e calmo. Sua maior preocupação é seu avô, de quem gosta muito, que não consegue andar e precisa de ajuda para tudo. O relacionamento dos dois é algo lindo, comovente e engraçado, acho que esse é o maior motivo dela preferir aguentar tudo que passa em casa. Mas como eu disse, ela não tem escolha.

não tem nada que me aborrece. se eu não posso fazer nada pra mudar uma coisa então eu não deixo ela me chatear. se eu posso mudar uma coisa então eu faço e aí não preciso me chatear com nada também.

A narrativa da história de Mary é algo singelo e profundo. Com sua impulsividade e língua afiada, ela nos diverte com seu jeito de ser e de viver a vida. Mesmo sendo tudo muito triste e dificultoso, ela consegue nos contagiar com sua força de vontade. Para a época ela é alguém muito forte e determinada, bem diferente da mãe, e é isso que a coloca em problemas a maioria da vezes. Ter coragem e falar a verdade não é algo bem visto. Me surpreendi com a trama, ela começa de uma forma simples, e até certo momento acho tudo muito normal e esperado, mas conforme ela vai nos narrando as reviravoltas da sua história, meu coração começa a ficar pesado. E quando chega o final, bem, não esperava nada daquilo. Foi um livro que me marcou de diversas formas. a cor do leite é peculiar, intenso e comovente. Não tem como esquecer essa personagem tão corajosa que sentiu necessidade de contar sua história e explicar os fatos e motivos que transformaram sua vida.

Os capítulos são divididos pelas estações do ano, pois é assim que Mary marca o tempo. E a cada um deles, mais surpreendente fica a trama, e percebemos na narrativa os sentimentos ali deixados, como se a cada palavra algo fosse se despedaçando dentro de Mary e a transformando. A leitura é muito rápida, mesmo com os erros dela e sua forma diferente de escrever. É impossível não se encantar com a cor do leite, é o tipo de livro que recomendo para todos lerem por ser tão belo e sensível.

21 comentários:

  1. Quando vi a capa, não imaginava que se tratasse de um livro tão denso e como nos contou, bem
    comovente!
    Fiquei cheia de vontade de conhecer essa emocionante história!

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  2. Que livro interessante.
    Capítulos com estações do ano.. história profunda.. gostei, parece ser uma boa história.

    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog

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  3. Nossa esse livro parece muito interessante, emocionante e intenso, fiquei doida pra ler!

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    1. Ele é muito emocionante, mesmo! Achei linda a trama, até releria!

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  4. Parece ser um livro bem emocionante, mas deve ser estranho ler um livro sem letras maiúsculas não?

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  5. Vi esse livro outro dia no site da editora, e fiquei super intrigada,
    sua resenha me deixou mais desejosa desse livro, com certeza vou querer ler.

    http://soubibliofila.blogspot.com.br/

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  6. O legal de livros escritos em primeira pessoa é isso: o autor tem o poder de nos fazer entrar, ainda mais intensamente, no mundo do personagem. Lembro que em O Lado Bom da Vida, por exemplo, muitos reclamaram que a narrativa era repetitiva, mas o que Quick fez foi simplesmente colocar-se no papel de um homem com distúrbios mentais e uma vontade louca de tornar uma pessoa melhor. A estratégia de omitir sinais gráficos e escrever com erros ortográficos me lembrou um pouco do movimento modernista, que quebra essa expectativa de escrita "bonitinha", com a qual estamos acostumados. Será que o nome "A cor do leite" tem alguma relação com o filme "A Cor Púrpura", em que a protagonista também leva uma vida difícil? Aí... tá vendo?! Já fiquei curiosa, haha! Parece ser uma história interessante.

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    1. Pois é, e escrever desse jeito nos deixa mais perto da personagem, já que ela é alguém com pouco estudo. Então retrata bem isso.
      Nunca assisti o filme, não sei dizer se tem relação. Vou tentar descobrir!

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  7. Ainda não conhecia o livro Dessa, mas gostei da sua descrição da história.
    Me daria bem lendo este livro, acho que iria gostar de verdade.
    Valeu a dica

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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    1. Iria gostar mesmo. É uma leitura fluída e a história é muito bonita.

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  8. Não conhecia o livro, mas a historia parece ser muito boa, de verdadeira luta da Mary e bem comovente. Mais um na minha listinhas de futuras leituras <3

    Visite o blog "Meu Mundo, Meu Estilo"
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  9. OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOI, Dessaaaaaaaaaaaaaa *-* Tudo bem, amor? Cara, como eu ainda não comentei nessa postagem? '-' Acho que eu tô ficando doida, só pode! Hahahahaha! ♥ Gente, essa capa é tão fofa, linda, perfeita, maravilhosa! *0* Vamos ver se a história faz jus à ela, hahaha! Nossa, meu Deus :o Letras minúsculas, sem travessões... Vish, já detestei. É a autora que aprendeu a escrever há pouco tempo ou a personagem? Uauahsuhashuas! Omg, detestei o pai da Mary! Vendeu ela? Que absurdo! Imagine se vivêssemos nessa época? Hahahahahaha! Pelo amor de Jesus! :3 Awn, gente, achei muito lindo da parte da Mary preferir ficar em sua casa por conta do seu avô <3 E, claro, também achei lindooooo os capítulos serem divididos em estações! Hahahaha *-* Olha, gostei muuuuuuito desse livro, hahahahha! ♥

    BEIJOS INFINITOOOOOOOOOOOOS! ♥

    Juu-Chan || Nescau com Nutella

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    1. OIII
      A capa é muito bonita mesmo, e ela é meio aveludada, sabe? ♥
      Ué, a personagem né. hahaha

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  10. Oi
    Me interessei por esse livro desde o seu lançamento, tanto pela sua capa, quanto pela sinopse. Logo percebemos que é um livro tocante e emotivo, que tenta mostrar uma realidade que é marcante e carrega muita dor. Achei muito interessante a forma como é escrito, deixa tudo tão mais próximo a personagem. Espero poder lê-lo em breve!
    Beijos

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    1. Verdade, a forma que a autora escreveu nos deixou muito próximo de Mary. Muito lindo!

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  11. Não fazia ideia do que se tratava esse livro, pelo nome e pela capa. Mas tenho ouvido uns comentários bem positivos de algumas pessoas que tem lido. E a sua resenha não foi diferente, recomendação anotada! ;)

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  12. Sua resenha me deixou muito curiosa em relação a esse livro. Já tinha visto a capa, mas não imaginava que se tratava de um a história tão densa e comovente. Achei muito interessante o modo como a autora escreveu o livro, dividindo os capítulos pelas estações do ano e escrevendo em letras minúsculas para mostrar que a protagonista aprendeu a ler e escrever há pouco tempo. Com certeza mais um livro pra minha lista de desejados!
    Beijos!!

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    1. O livro é lindo, digo de novo: leitura obrigatória. hahaha
      *O*

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